Sobre o evento

Bem-vindas/es/os ao 6º Encontro de Gastronomia, Cultura e Memória:  Hospitalidade!!

Para darmos início a esta edição, nada mais importante do que mencionar a riqueza e longevidade do nosso tema, portanto, lembrando o renomado antropólogo francês Marcel Mauss que, nos anos 1920, empreendeu uma pesquisa fascinante, publicada com o título “Ensaio sobre a Dádiva”. Nela, Mauss estudou as origens elementares e estruturais para a manutenção das relações sociais, isto é, a Hospitalidade, pesquisando as práticas ritualísticas – dos povos indígenas, tanto dos situados ao noroeste dos EUA como daqueles da Melanésia – de “trocas e da obrigação em retribuir”, nomeada potlatch. A partir dessa pesquisa, Mauss encontrou o regime contratual de sociedades “ditas primitivas”, ou seja, anteriores à instituição dos mercadores ou mesmo da moeda. Segundo Mauss, o potlatch significa essencialmente ‘nutrir’ e ‘consumir’, sendo seu caráter típico “o sistema de dádivas trocadas”.
Resumidamente, o ensaio deste antropólogo observava a essência coletiva do contrato social entre anfitriões e convidados que veio fundamentar o direito romano arcaico e sua transição para o direito e a economia modernos.

Esses insights nos conduzem a refletir sobre a evolução da hospitalidade ao longo do tempo, desde suas raízes arcaicas até suas manifestações contemporâneas. À medida que avançamos no tempo, vemos surgir transformações nas práticas da hospitalidade, sobretudo, a partir da Revolução Industrial, quando a hospitalidade comercial emerge enquanto sistema, refletindo uma abordagem mais calculista e orientada para o lucro. Seguindo o exemplo de autores e pesquisadores da Hospitalidade, como Conrad Lashley, que organiza o livro “Em busca da Hospitalidade” (publicado pela Ed. Manole no Brasil em 2004), para conter o moto capitalista em torno da hospitalidade moderna e contemporânea, seria necessário resgatar a profundidade da hospitalidade longeva, transcendendo a simples transação comercial para cultivar relações sociais mais autênticas e duradouras. Com essas questões em vista, propomos, neste encontro, reunir atividades que expressem a hospitalidade na partilha do comum.

Assim, além do evento acadêmico, traremos o lançamento da Cartilha “A alma encantadora das ruas”, um trabalho escrito e executado à várias mãos e mentes, que apresenta digressões acerca da importância das mulheres e das vendedoras de doces na construção de uma rede de solidariedade e afetividade das cidades brasileiras coloniais. Também, neste 6º Encontro de Gastronomia, Cultura e Memória: Hospitalidade mostramos os resultados da nossa parceria com o Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica, para o qual realizamos a pesquisa de campo “Troco doces por suas memórias doces”. Nessa pesquisa, a proposta foi a de agenciarmos uma troca entre o CMAHO e a comunidade de trabalhadores situados no seu entorno.  O resultado desse trabalho conjugou a realização do evento, acolhido pelo CMAHO, e a abertura ao público da exposição “Memórias doces”, construída dialógica e organicamente por meio dos encontros entre os comerciantes e os extensionistas do Projeto de extensão Gastronomia, Cultura e Memória/INJC-UFRJ.

Ademais, contaremos com o apoio dos Programas de Pós-graduação em Turismo (PPGTUR/UFF), Memória Social (PPGMS/UNIRIO), Ecoturismo (PPGEC/UNIRIO) e Hospitalidade (PPGHosp/UAM), somando esforços por meio dos quais a academia se apresenta como uma plataforma para explorar as mudanças e desafios da Hospitalidade na contemporaneidade. Ao reunir acadêmicos, estudantes, cozinheiros, pesquisadores, artistas, a comunidade e entusiastas da culinária, buscamos não apenas celebrar a riqueza da gastronomia e da cultura, mas refletir sobre o papel da hospitalidade na construção de comunidades emancipadas, resilientes e inclusivas.

Assim, convidamos a todos a se juntarem a nós nesta jornada de descoberta e diálogo, onde a hospitalidade é mais do que um conceito acadêmico, é uma experiência compartilhada que nos conecta e enriquece. Sejam todos bem-vindos a esta celebração da hospitalidade em sua forma mais autêntica e significativa!

Até novembro!

Comissão Organizadora do 6EGCM.